O possivel aumento da anafilaxia grave nas crianças necessita de um reconhecimento e atuação por todos, e não só dos especialistas em imunoalergologia.
Um novo guia de atuação da EAACI reforça o princípio de envolver todos os intervenientes (profissionais de saúde, incluindo os os cuidados de saúde primários, farmacêuticos, doentes e seus familiares) na identificação e prevenção das reações anafiláticas.
Folheto (PDF)Lisboa, 7 de Abril 2014 – A anafilaxia é cada vez mais uma das manifestações de alergia observadas na criança, sobretudo provocada por alergia alimentar: até 22% das crianças Europeias têm uma alergia, com as reações alérgicas graves a alimentos a aumentar1. A gravidade destas situações, que potencialmente podem ser fatais, exige a atenção não só dos Imunoalergologistas mas de todos os profissionais de Saúde. Esta é uma das primeiras e mais importantes mensagens em anúncio do novo guia de atuação em anafilaxia em que a Academia Europeia de Alergia e Imunologia Clínica (EAACI)2 se encontra atualmente a trabalhar.
“Com este novo documento, a EAACI pretende fornecer, à comunidade científica e da área da saúde, recomendações baseadas na evidência científica sobre o reconhecimento, avaliação e tratamento dos doentes que apresentaram, apresentam ou estão em risco de apresentar um quadro de anafilaxia”
sublinha Nikolaos G. Papadopoulos, Presidente da EAACI.
“A anafilaxia, que passou a ser de notificação obrigatória em Portugal em 2012, é ainda mal diagnosticada e sub-tratada entre nós pondo em risco 0,5 a 1,5% da população Portuguesa (até 150 000 Portugueses) sendo que, abaixo dos 18 anos, os alimentos são a sua principal causa. O Catálogo Português de Alergias e outras Reações Adversas (CPARA), desenvolvido com a colaboração de membros da SPAIC, permite registar e partilhar informação destas reações em todo o sistema de saúde Português. Este é um tema da maior atualidade, que será abordado sexta-feira, na Faculdade de Medicina da U.Porto, num curso de Alergia Alimentar organizado com a Faculdade de Ciências da Nutrição da UP e o Hospital S. João, com o patrocínio científico da SPAIC.”
sublinha Luis Delgado, Presidente da SPAIC.
Alergia Alimentar: 17 milhões na Europa
A anafilaxia é uma reação alérgica grave generalizada, ou sistémica, que é potencialmente fatal3,4. É caraterizada pelo rápido início de dificuldade respiratória e/ou circulatória, geralmente associada a manifestações da pele (urticária) e/ou das mucosas (edema).
De acordo com uma publicação da EAACI2, mais de 17 milhões de pessoas sofrem de alergias alimentares na Europa, e uma em cada quatro crianças Europeias em idade escolar vivem com problemas alérgicos. Além do mais, as reações alérgicas graves potencialmente fatais (anafilaxia) provocadas por alergia alimentar estão a crescer na população mais jovem.
Apesar de consideravelmente subdiagnosticada, os dados epidemiológicos mostram uma incidência de anafilaxia na Europa entre 1.5 a 8 por 100,000 pessoas/ano, com um aumento dos casos de anafilaxia nos últimos 20 anos2. A prevalência de anafilaxia na Europa está estimada em 0.3% e considera-se que a a sua morbilidade está subestimada.
Este é precisamente um dos pontos que o novo guia de atuação da EAACI pretende sublinhar. Este problema é mais comum do que os estudos epidemiológicos parecem mostrar, entre outras razões porque tem um início agudo e indesperado, pode variar em gravidade e pode curar espontaneamente. A anafilaxia é uma emergência clínica, pelo que todos os profissionais de saúde devem estar familiarizados com o seu reconhecimento e tratamento, quer na fase aguda quer na fase persistente.
Importância do reconhecimento pelos doentes
Alimentos, medicamentos e picadas de insectos são as três causas mais prevalentes de anafilaxia. Enquanto os alimentos são a causa mais comum nas crianças, medicamentos e venenos de himenópteros (abelha/vespa) são a causa da maior parte de reações anafiláticas nos adultos, com maior frequência nas mulheres que nos homens.
O primeiro tratamento é a adrenalina intramuscular, enquanto que o posicionamento correto, soros intravenosos e a inalação de broncodilatadores de curta-ação são as medidas adicionais. A prevenção do risco de novos episódios requer a prescrição de um auto-injetor de adrenalina, de modo ao doente controlar novos episódios quando em contacto inevitável com o fator causal (alimentos, látex, insectos, exercício, etc.).
A EAACI e a SPAIC recomendam a todos os doentes consultar um Imunoalergologista, de modo a obter informação sobre a melhor estratégia para evitar os fatores precipitantes e minimizar o risco de novos episódios. Se a causa for alimentar, é também recomendado um nutricionista.
O início súbito e os efeitos potencialmente fatais são fatores que levam os autores do guia de atuação a recomendar melhorar o reconhecimento pelos doentes e seus familiares. “É preciso dar maior atenção a estratégias para prevenir um episódio de anafilaxia, para reconhecer os sinais e sintomas de aviso, e para decidir quando e como os medicamentos devem ser ministrados, incluindo a adrenalina auto-injetável”, refere Antonella Muraro, Secretária-Geral da EAACI e coordenadora do comité organizador do guia de atuação.
Informação detalhada sobre a alergia alimentar
O guia de atuação sobre alergia alimentar e anafilaxia da EAACI, será disseminado em Junho de 2014, numa inciativa comum entre a EAACI, organizações de doentes, sociedades nacionais de alergia de toda a Europa, médicos de cuidados primários e farmacêuticos.
A alergia alimentar é o fator precipitante de anafilaxia mais comum na comunidade. É da maior importância fornecer às crianças e educadores informação compreensível sobre como evitar um alergénio alimentar, sendo o rápido reconhecimento e tratamento de um episódio de alergia alimentar da maior importância. Fornecer um auto-injetor de adrenalina e informação de como e quando o utilizar, são determinantes para um bom plano de ação.
Cuidar de doentes com risco de anafilaxia cria grandes desafios, que são específicos da comunidade. Estes incluem a necessidade de interactuar com as entidades que fornecem os alimentos (p.ex. os professores da escola e o pessoal da restauração) de maneira a evitar a exposição acidental e ajudar os doentes com alergia alimentar a fazer uma boa opção alimentar. Uma melhor educação dos doentes em risco e seus familiares, colegas, professores e enfermeiras de saúde escolar, assim como pessoal do setor da restauração e alimentação, pode reduzir o risco de reações severas ou fatais. Um melhor reconhecimento pelos decisores políticos pode também melhorar os planos de ação a nível regional e nacional. De acordo com estes objetivos um capitulo dedicado a lidar com a anafilaxia na comunidade foi adicionado ao guia de ação.
A Academia Europeia de Alergia e Imunologia Clínica, EAACI, é uma organização sem fins lucrativos ativa na área das doenças alérgicas e imunológicas como a asma, rinite, eczema, alergias ocupacionais, alergia alimentar e a medicamentos e anafilaxia. A EAACI foi fundada em 1956 em Florença e tornou-se a maior associação médica na Europa na área da alergia e imunologia clínica. Inclui cerca de 7.800 membros de 121 países, assim como 47 Sociedades Nacionais de Alergia.
Para mais informação, por favor contacte:
EAACISobre a SPAIC - Fundada a 10 de Julho de 1950, como Sociedade Portuguesa de Alergia, a SPAIC (Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica) é a maior associação científica nacional que agrega especialistas médicos (Imunoalergologistas), investigadores e técnicos dedicados ao estudo da alergia, asma e imunologia clínica, organizando e patrocinando regularmente uma gama alargada de programas de formação e desenvolvimento profissional nestas áreas.
Para mais informação contacte: SPAIC