De todas as doenças alérgicas que podem afectar a população, a asma tem merecido a atenção principal não só pelo seu impacto familiar, sócio-profissional e económico mas também pela deficiente qualidade de vida e risco de morte que pode condicionar quando não devidamente controlada. A rinite, alérgica ou não, não é uma doença que mata mas, como todos sabemos, mói - é uma doença sub-diagnosticada e sub-tratada e uma grande maioria dos doentes habituam-se a viver «constipados», a maior parte das vezes não procurando cuidados médicos, sejam do seu médico de família ou de um especialista. Um estudo recente (RDR2000), com o objectivo de conhecer a prevalência da rinite em Portugal Continental no ano de 1998, revela que apenas 20% dos doentes com rinite procura o seu médico de Clínica Geral por queixas da doença e apenas 16% tinham sido observados em consultas de especialidade de Imunoalergologia.
Entre nós, estima-se que 930.000 portugueses sofrem de rinite, alérgica ou não, o que corresponde a uma prevalência estimada para a população geral de 9,55%.
No que diz respeito à asma, sabe-se que rinite e asma coexistem frequentemente e um estudo recente considera mesmo que a rinite é um fenómeno universal em doentes com asma alérgica ocorrendo em 99% de adultos e em 93% de adolescentes. Da mesma maneira, há estudos recentes que revelam que a asma aparece três vezes mais nos indivíduos com rinite do que naqueles que nunca tiveram sintomas nasais. Todos estes dados apontam para que a rinite seja considerada um factor de risco para a asma.
As duas entidades, rinite e asma, partilham mecanismos inflamatórios comuns que explicam o conjunto de sintomas que as caracterizam e todos estão de acordo, clínicos e investigadores, que é importante iniciar o tratamento preventivo ( evitar os ácaros do pó de casa, o pólen, o fumo do tabaco, ambientes poluídos, etc. ) e o tratamento anti-inflamatório o mais precocemente possível. O tratamento da rinite com anti-histamínicos orais e corticosteróides de aplicação nasal e, em casos criteriosamente seleccionados, com vacinas anti-alérgicas, pode evitar o aparecimento da asma ou no caso dela já existir, melhorar os seus sintomas, evitar agudizações e reduzir a reactividade dos brônquios que caracteristicamente está aumentada.
O nariz reage sempre de maneira idêntica quer se trate de uma agressão vírica (a banal constipação) quer se trate de um alergénio (ácaros do pó de casa ou pólen): prurido nasal (comichão), espirros, rinorreia (pingadeira) e obstrução (entupimento) nasal em maior ou menor grau. A suspeita de rinite alérgica levanta-se quando este conjunto de sintomas surge repetidamente, o que pode acontecer ao longo do ano todo (caso da rinite alérgica perene, muitas vezes associada ao pó de casa como factor desencadeante) ou num período determinado do ano (caso da rinite alérgica polínica com sintomas predominantes em Maio e Junho, meses em que a concentração de grãos de pólen de gramíneas, os mais frequentemente incriminados, atinge os maiores níveis).
A constipação banal, o resfriado comum, ocorre a maior parte das vezes nas transições de estação e no Inverno, duram 3 a 7 dias e em cada indivíduo, uma ou duas vezes por ano.O indivíduo que «anda sempre constipado» ou que, quando chega a Primavera arrasta «uma constipação» até ao Verão, deve procurar cuidados médicos. A estes sintomas de rinite, associam-se muitas vezes sintomas dos olhos (comichão, lacrimejo, intolerância à luz, vermelhidão), sendo esta associação mais frequente na rinite polínica.
Embora o conjunto de todos os sintomas da rinite seja muito incomodativo e interfira negativamente nas actividades diárias dos doentes, a obstrução nasal é de longe o sintoma com mais consequências, desde perturbar o sono, com uma fadiga anormal no dia seguinte, até ao aparecimento de tosse e irritabilidade brônquica (em alguns casos com o quadro típico de asma) que a respiração obrigatória pela boca acaba por condicionar. Nas crianças, a obstrução nasal persistente leva a deformação do palato (vulgo céu da boca
) com anomalias nas arcadas dentárias e anormal implantação dos dentes, por vezes de correcção muito difícil. A sinusite, processo inflamatório dos seios perinasais, complica cerca de metade dos casos de rinite alérgica, aumenta a susceptibilidade a infecções víricas e bacterianas e o conjunto de sintomas que a caracterizam, nomeadamente as dores de cabeça, as náuseas, as tonturas, o aparecimento de secreções nasais de difícil eliminação, complica ainda mais o dia-a-dia dos doentes. Assim, podemos concluir que há hoje evidência de que a rinite mal controlada pode conduzir a complicações que vão desde a sinusite à asma, passando pela otite média, por anomalias na implantação dos dentes e por perturbações do sono mais ou menos graves.