A alergia a insectos é conhecida desde a antiguidade, na Europa mais de 95% das reacções alérgicas provocadas por insectos são resultantes da picada de abelhas e vespídeos. Os mosquitos, moscas, pulgas e percevejos podem provocar reacções, geralmente locais, resultantes da mordedura e não da picada.
Da ordem dos himenópteros, as espécies mais importantes são: Vespulas, Dolichovespulas, Vespas, Polistes e Apis mellifera (abelha do mel).
Na Europa a prevalência de alergia ao veneno de himenópteros é cerca de 20%. Nos adultos a prevalência de reacções locais exuberantes varia de 2 a 19% e de reacções sistémicas graves de 0,6 a 7,5%. Nos apicultores a percentagem de reacções generalizadas é mais elevada, de 15 a 43%. Nas crianças as reacções graves são raras, cerca de 0,15 a 0,3%.
A incidência da mortalidade varia entre 1 a 5 mortes/10 milhões de habitantes/ano, extrapolando para o nosso país, poderão ocorrer entre 1 a 5 casos fatais por ano.
O veneno é constituído por alergénios, proteínas com acções tóxicas e enzimáticas. Os mosquitos não produzem veneno, mas a saliva contem substâncias irritantes responsáveis pelas reacções locais.
Os indivíduos alérgicos desenvolvem anticorpos IgE contra o veneno e em picadas posteriores podem surgir reacções alérgicas de gravidade variável.
As reacções alérgicas à picada de himenóptero podem ser de vários tipos:
É importante a história clínica, caracterizando o tipo de reacção, os factores de risco individuais e tentando identificar o insecto em causa. É útil saber que o ferrão das abelhas permanece habitualmente na pele, o que não acontece com os vespídeos.
Os testes cutâneos em picada e intradérmicos com leitura imediata, são muito sensíveis, e estão indicados quando há história de reacções sistémicas.
A determinação de anticorpos IgE específicos no soro é mais específica, mas pode ser negativa em 15% dos casos. Os anticorpos IgG4 específicos, aumentam transitoriamente algumas semanas após uma picada e baixam 3 a 6 meses depois.
Após uma picada de abelha deve-se tentar remover imediatamente o ferrão, com as unhas ou um cartão, evitando comprimir o saco do veneno que pode provocar uma injecção adicional de veneno.
Tratamento das reacções:
Todos os doentes com história de reacções sistémicas graves devem ser portadores de um dispositivo (caneta/seringa) de emergência contendo adrenalina para auto-administração (0,3 mg no adulto e 0,15 mg na criança), de anti-histamínico e corticosteróide.
Em caso de picada deve tomar imediatamente o anti-histamínico e o corticosteróide. Caso sinta os primeiros sintomas de reacção alérgica sistémica deverá preparar a adrenalina para auto-injecção intra-muscular na face antero-lateral da coxa e através da roupa se necessário.
Estes doentes devem ser referenciados a uma Consulta de Imunoalergologia, para avaliação e se necessário vacina com veneno.
Todos os indivíduos com reacções sistémicas graves, testes cutâneos e IgE específicas positivos devem fazer tratamento de dessensibilização (vacina) com o veneno ao qual são alérgicos. A imunoterapia específica é o único tratamento capaz de prevenir futuras reacções.
Os doentes com história de reacção local exclusiva, mesmo que exuberante, não têm indicação para esta terapêutica, mesmo que os testes cutâneos sejam positivos.
Existem vários protocolos para iniciar as vacinas com venenos: convencional, rápido ou ultra-rápido. Actualmente, preferem-se os protocolos rápidos com a duração de 4 dias ou ultra-rápidos durante 3,5 horas, realizados sempre em ambiente hospitalar. Atingida a dose de 100μg de veneno, equivalente aproximadamente à picada de dois insectos, esta é repetida cada 4 semanas durante o primeiro ano de tratamento e cada 6 semanas nos anos seguintes, durante 3 a 5 anos.
Este tratamento é eficaz em 91 a 100% dos casos de alergia ao veneno de vespa e 77 a 80 % ao veneno de abelha. Nos restantes casos ocorrem apenas reacções de reduzida gravidade.
Na maioria dos casos os insectos picam quando se sentem em perigo, tornam-se mais agressivos durante o verão e quando há cheiros intensos ou perfumados.